quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Preços da energia disparam na Inglaterra

"O anúncio, na semana passada, de fortes aumentos do preço da electricidade e do gás no Reino Unido suscitou viva contestação da parte da oposição trabalhista e de movimentos de consumidores, que têm vindo a reclamar o congelamento das tarifas.
No parlamento, o líder trabalhista Ed Miliband acusou o primeiro-ministro conservador, David Cameron, de favorecer os seis gigantes energéticos contra o interesse dos consumidores, permitindo-lhes que subam os preços muito acima da inflação.
A British Gas, por exemplo, quer aplicar aumentos de 8,4 por cento no gás e de 10,4 por cento na electricidade, ou seja, três a quatro vezes o nível da inflação.
Uma sondagem realizada início de Setembro revelou que 75 por cento dos inquiridos consideram excessivos os preços da energia, e que, para 68 por cento, a solução passa pela renacionalização das empresas.
Na verdade, as privatizações realizadas nos anos 80, sob os governos de Margaret Thatcher, não se traduziram em melhorias do serviço nem na redução de preços, como prometiam os adeptos do mercado.
Pelo contrário, a chegada dos privados veio criar um novo tipo de pobreza no país: a pobreza energética (fuel poverty), que já afecta quase 20 por cento das famílias sem meios para aquecerem as habitações durante o rigoroso Inverno britânico.
Segundo o regulador do sector, as companhias privadas aumentaram os preços em 24 por cento nos últimos quatro anos. Deste modo, as suas margens de lucro passaram de 3,2 por cento em 2011 para sete por cento actualmente, o que representa um acréscimo na factura de 95 libras (cerca de 112 euros) por cliente.
Com o Inverno a bater à porta, um novo agravamento de preços, num país onde os salários em geral estão congelados, significará que milhões de pessoas terão de optar entre aquecer menos as suas casas ou comprar menos comida.
É neste quadro que no debate político começam ser formuladas propostas até há pouco inimagináveis, tal o consenso que unia os principais partidos sobre os alegados benefícios do mercado concorrencial.
Hoje, é o próprio líder dos trabalhistas que se atreve a propor o congelamento dos tarifários da energia. A ideia da nacionalização também já não é descartada. A porta-voz do partido para a área dos transportes afirmou recentemente que se os trabalhistas ganharem as eleições em 2015, irão equacionar a renacionalização do transporte ferroviário.
Numa economia em crise, o funcionamento «livre» do mercado parece incapaz de dar resposta aos milhões de britânicos que vêem o seu poder de compra diminuir de dia para dia.
Neste novo contexto, o regulador do sector da água, Ofwat (The Water Services Regulation Authority) anunciou na passada semana a intenção de bloquear o aumento de oito por cento pretendido pela Thames Water, que abastece 14 milhões de domicílios."

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