O colega Paulo Silva escreveu a perguntar: “Gostaria que me elucidassem onde é que os sindicatos podem ganhar com o afastamento preconizado por vós das negociações salariais e do ACT”? A pergunta está equivocada mas é uma boa pergunta. Conversemos então.
Dou a minha opinião pessoal. Começando pelo princípio; os processos negociais, para aumentos salariais ou outros, têm construído uma situação de facto: os trabalhadores são cada vez mais espectadores das negociações. Mais do que atribuir culpas ao sindicato X, Y ou Z a realidade é que NÓS trabalhadores não contamos para o desenrolar dos acontecimentos.
As várias fases de privatizações acentuaram a ideia da inevitabilidade: “há uma ordem superior à própria empresa, contra a qual não tem resultados lutar”. A mesma inevitabilidade aconteceu com a generalização dos prestadores de serviços em quase todas as funções da empresa. Acresce que vimos entrar como trabalhadores dos empreiteiros filhos de trabalhadores a ganharem 1/3 do que ganhavam os pais. O mesmo aconteceu com a entrada de trabalhadores na EDP sem direito ao ACT. A solidariedade geracional não aconteceu, a solidariedade entre trabalhadores não aconteceu… Independentemente do resultado teria sido necessário partilhar ideias e reflexões, valorizar a NOSSA identidade de trabalhadores da EDP e interrogar os caminhos que a empresa levava.
Ao longo dos tempos foi diminuindo o interesse dos trabalhadores pelos plenários. De que valem os plenários hoje? O sindicato é um importantíssimo órgão de defesa do trabalhador, mas os trabalhadores perguntar-se-ão pelo valor de uso que têm.
Pior ainda, hoje vivemos uma situação completamente nova (nem vale a pena descrevê-la). E agora? Continua tudo igual como está a acontecer nas actuais negociações salariais? Um desce, outro sobe, um ajusta (…) e NÓS esperamos, sentadinhos, sossegadinhos…
As leis de trabalho estão a ser profundamente alteradas, e NÓS, continuamos sentadinhos? As CTs vão ser determinantes na lei, e NÓS esperamos sossegadinhos?
O texto vai longo, por isso vou directo à pergunta do Paulo Silva: não, nós não queremos afastar os sindicatos --» nós queremos que os sindicatos partilhem a luta e as negociações com o órgão de maior capacidade de UNIDADE – a COMISSÃO DE TRABALHADORES. MAIS: queremos transferir para os trabalhadores as grandes decisões que hoje são tomadas em gabinetes. Queremos que os trabalhadores votem essas decisões.
Os sindicatos ganharão na medida em que os trabalhadores ganhem, trabalhadores mais contentes com o sindicato não deixarão de ser sócios, sindicatos com mais participação dos sócios têm mais força, trabalhadores mais participativos dão mais força à sua identidade e vida colectiva.
A DEMOCRACIA É CHAVE PARA DEFENDER A NOSSA ESTABILIDADE E DIREITOS.
Vitor Franco
Era bom que isso já estivesse a acontecer
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